O preço do aluguel de pontos comerciais de rua subiu, em média, 21%, por metro quadrado, em Salvador, entre novembro de 2013 e abril de 2014, segundo dados anunciados esta semana pela consultoria BG&H Retail and Real Estate, empresa de São Paulo.
A capital baiana foi uma das quatro cidades em que o preço do aluguel (R$ 70), por metro quadrado, se manteve acima da média nacional (R$ 69), ao lado de Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, que tradicionalmente figuram entre os locais em que o metro quadrado é mais caro no Brasil.
A valorização do aluguel de pontos comerciais na capital baiana, entretanto, reproduz a desigualdade econômica na cidade. Como explica a diretora de Real Estate da BG&H, Monica Barboza Paes de Barros, há um aumento na procura por bons pontos comerciais na cidade, mas a falta de estrutura viária na maioria dos bairros e o perfil socioeconômico do município concentram o comércio de alto poder aquisitivo em algumas poucas ruas.
“Verificamos que, em Salvador, os locais mais valorizados em termos de aluguel comercial são a Rua das Hortênsias, a Manoel Dias da Silva e a Paulo VI”, afirmou Monica, que elencou três ruas na região da Pituba, um dos bairros mais caros de Salvador.
A consultoria destaca que a falta de investimentos em estrutura viária é determinante para que o mercado imobiliário soteropolitano fique inflado em alguns poucos endereços, como o Caminho das Árvores, bairro residencial em que as poucas ruas liberadas para o comércio apresentam vários casarões que são facilmente alugados para lojas de luxo.
Grandes redes
Presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio da Bahia, Paulo Motta tem uma opinião parecida. Embora destaque a recente valorização dos imóveis de rua em bairros populares, como Cajazeiras, Cabula e Liberdade, Motta lembra que em bairros que sofrem com falta de investimento em infraestrutura, como a Calçada e a Ribeira, donos de imóveis não conseguem elevar o valor substancialmente.
Mas o presidente do Sindilojas cita outro fator que tem contribuído para a elevação dos aluguéis de pontos comerciais em diferentes bairros: o avanço das grandes redes nacionais de varejo, especialmente no setor de móveis e eletrodomésticos, que se espalham pelas ruas principais dos bairros. “Por tabela, essas redes influenciam o valor do aluguel de imóveis vizinhos usados por pequenos comerciantes”, afirma Motta.
O presidente da Associação Baiana de Administradores de Imóveis e Condomínios (Abai), Marcos Teixeira, destaca que, além da localização, a atividade econômica a ser desenvolvida no imóvel pode gerar no proprietário uma expectativa de que o seu locatário vai lucrar muito, o que justificaria um aluguel maior.
“Conheço o caso de um imóvel pequeno na Graça, onde funciona uma lavanderia, cujo aluguel fica em torno de R$ 9 mil mensais”, enfatiza Teixeira, que está colocando um imóvel no mercado com um aluguel estimado em R$ 15 mil por mês, na Rua São Paulo, bairro da Pituba.
Essas variantes podem levar a diferenças consideráveis dentro de uma mesma área geográfica. O casal de empresários Francyelle Ferraz e Ezequiel Barros passou meses à procura de um imóvel na Barra para abrir um café. Inicialmente, a ideia era aproveitar as obras de revitalização e ocupar um dos imóveis disponíveis nas ruas que passaram por obras para montar o negócio. “A gente só estava achando imóvel com aluguel de R$ 5 mil, até que finalmente conseguimos alugar esse ponto por R$ 1.800”, comemora a estudante de psicologia Francyelle Ferraz, que conduz o empreendimento ao lado do namorado, o empresário Ezequiel Barros.
Mas nem todo mundo está de acordo com a visão de que os preços de aluguéis de imóveis comerciais de rua estão em alta na cidade. “O que tenho visto é justamente o contrário, muitos galpões e lojas com o aluguel sendo reduzido sem que os donos consigam fechar negócio”, afirma o vice-presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis da Bahia (Creci-BA), José Alberto de Vasconcelos, dono da José Alberto, uma das maiores corretoras de imóveis do estado da Bahia.
Fonte – A Tarde