O presidente Jair Bolsonaro afirmou, em discurso na reunião de cúpula do G20 realizada neste sábado (21), que “há tentativas de importar” para o Brasil “tensões” raciais que são “alheias à nossa história.”
A declaração do presidente ocorre em meio a protestos contra o racismo em várias cidades do país depois que o soldador João Alberto Silveira Freitas, cidadão negro de 40 anos, foi espancado e morto em uma unidade do supermercado Carrefour em Porto Alegre (RS). Ele foi enterrado neste sábado.
O discurso de Bolsonaro não foi transmitido pelo G20, mas disponibilizado pelo Palácio do Planalto no final da manhã deste sábado. O presidente iniciou a sua fala tratando da questão racial, mas não citou o caso de João Alberto.
“Antes de adentrarmos o tema principal desta sessão, quero fazer uma rápida defesa do caráter nacional brasileiro em face das tentativas de importar para o nosso território tensões alheias à nossa história”, disse Bolsonaro.
O presidente continua:
“O Brasil tem uma cultura diversa, única entre as nações. Somos um povo miscigenado. Brancos, negros e índios edificaram o corpo e o espírito de um povo rico e maravilhoso. Em uma única família brasileira podemos contemplar uma diversidade maior do que países inteiros.”
De acordo com Bolsonaro, a miscigenação “foi a essência” do brasileiro que “conquistou a simpatia do mundo.” Para ele, entretanto, “há quem queira destruí-la, e colocar em seu lugar o conflito, o ressentimento, o ódio e a divisão entre raças, sempre mascarados de ‘luta por igualdade’ ou ‘justiça social”.
Segundo o presidente, “tudo” isso é feito “em busca de poder.”
Bolsonaro, na sequência, admitiu que os brasileiros “não somos perfeitos” e que “temos, sim, os nossos problemas.” Mas apontou que “existem diversos interesses para que se criem tensões entre nós.”
“Um povo unido é um povo soberano. Dividido é vulnerável. E um povo vulnerável pode ser mais facilmente controlado e subjugado. Nossa liberdade é inegociável”, disse o presidente.
Ele afirmou ainda que “como homem e como presidente”, enxerga a “todos com as mesmas cores: verde e amarelo!”.
“Não existe uma cor de pele melhor do que as outras. O que existem são homens bons e homens maus; e são as nossas escolhas e valores que determinarão qual dos dois nós seremos. Aqueles que instigam o povo à discórdia, fabricando e promovendo conflitos, atentam não somente contra a nação, mas contra nossa própria história”, afirmou Bolsonaro.
O encontro do G20 é presidido neste ano pela Arábia Saudita. É a primeira vez que um país árabe sedia o evento. Entretanto, devido à pandemia do novo coronavírus, a reunião foi virtual.
Protestos contra o racismo
A morte de João Alberto, depois de ser espancado por dois seguranças de uma loja do supermercado Carrefour, repercutiu fortemente no Brasil e também no exterior e motivou protestos antirracistas nas redes sociais e nas ruas de algumas cidades.
Em Porto Alegre, cidade onde o crime aconteceu, a manifestação começou pacífica, mas terminou em confusão.
Já em São Paulo, grupo atacou uma loja do Carrefour – ninguém se feriu. No Rio, o protesto fechou unidade da rede de supermercados.
Na sexta (20), o presidente Jair Bolsonaro falou sobre violência em uma rede social, mas não citou o caso de João Alberto. Ele nem falou em assassinato ou sobre racismo no Brasil. O vice-presidente Hamilton Mourão lamentou a morte, mas afirmou que não há racismo no Brasil.
Covid-19
Em seu discurso para o G20, Bolsonaro também falou sobre a pandemia e afirmou que, juntas, as nações estão superando “uma das mais graves crises sanitárias da história recente”.
“Estamos vencendo as incertezas, as dificuldades logísticas e, inclusive, a desinformação”, disse.
Bolsonaro afirmou, ainda, que o Brasil se soma aos esforços internacionais para a busca de vacinas eficazes e seguras contra a covid-19, “bem como adota o tratamento precoce no combate à doença”.
“Apoiamos o acesso universal, equitativo e a preços acessíveis aos tratamentos disponíveis. É com esse objetivo que participamos de diferentes iniciativas voltadas ao combate à doença”, declarou.
O presidente também defendeu a “liberdade de cada indivíduo para decidir se deve ou não tomar a vacina”.
“A pandemia não pode servir de justificativa para ataques às liberdades individuais”, completou.
Economia
Bolsonaro afirmou que os países do G20 “injetaram” mais de US$ 10 trilhões na economia mundial para aliviar os reflexos da pandemia na economia.
“Essas medidas contribuíram para assegurar a devida liquidez aos mercados e conferir alívio fiscal aos países mais vulneráveis. Evitamos, dessa maneira, que os efeitos da pandemia fossem ainda mais devastadores”, afirmou.
Entre as ações adotadas pelo governo brasileiro, Bolsonaro citou o auxílio emergencial pago, segundo ele, a 65 milhões de trabalhadores informais que perderam renda, e a liberação de recursos para pequenas e medias empresas.
Bolsonaro afirmou que “à medida que a pandemia é superada no Brasil, a vida das pessoas retorna à normalidade e as perspectivas para a retomada econômica se tornam mais positivas e concretas.”
“Por isso, queremos dar continuidade ao programa de reformas estruturais para fortalecer e estimular ainda mais o crescimento sustentado do Brasil”, declarou.
Reformas na OMC
O presidente também defendeu a reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC), avaliando que ela seria um “elemento-chave” para a recuperação da economia mundial.
“O Brasil defende avanços nos três pilares da OMC: negociações; solução de controvérsias; e monitoramento e transparência. Também esperamos que o Órgão de Apelação possa voltar à plena operação o mais rápido possível”, disse.
Nessa reforma, avaliou Bolsonaro, a “ambição de reduzir os subsídios para bens agrícolas” deve contar “com a mesma vontade com que alguns países buscam promover o comércio de bens industriais”.
Fonte: G1