Consequências da desnutrição no combate ao coronavírus

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Ao longo da pandemia, grupos de pesquisa investigaram as consequências da nutrição deficiente em pacientes infectados com covid-19. E as causas para problemas de alimentação vão além da fome ligada à pobreza.

Um dos primeiros estudos sobre o tema foi publicado no European Journal of Clinical Nutrition em abril de 2020 a partir de dados de 182 pacientes de Wuhan, cidade chinesa onde começou oficialmente a pandemia, no fim de 2019.

Os pesquisadores levantaram diversas hipóteses para os quadros de desnutrição, presente em metade dos pacientes com covid-19, principalmente os idosos. Entre eles, o impacto de sintomas gastrointestinais na ingestão de alimentos, a perda de apetite por ansiedade, a redução dos níveis de algumas proteínas durante a resposta do corpo ante uma inflamação grave e o quadro de diabetes mellitus (associado a problemas no metabolismo de nutrientes).

Outro estudo sobre o tema foi publicado no British Journal of Nutrition e produzido por pesquisadores de Toulouse, cidade do sul da França. Eles acompanharam 80 pacientes diagnosticados com covid-19 que foram internados em um hospital da região.

Do total, 30 foram diagnosticados com subnutrição. Esse quadro é definido a partir de diversos critérios, como o índice de massa corporal (relação entre peso e altura), perda de peso recente e redução na ingestão de comida.

No caso desses pacientes, muitos passaram a ter problema com alimentação depois de contraírem covid-19, que costuma afetar o olfato e o paladar dos pacientes. Por exemplo, 46% dos pacientes reduziram pela metade o consumo de alimentos durante a infecção e 28% tiveram perda de apetite.

Segundo os pesquisadores, ao chegarem aos hospitais, esses pacientes tinham uma concentração da proteína albumina no sangue tão baixa quanto a detectada em outras doenças inflamatórias graves. Essa proteína, ligada à regulação do pH sanguíneo, é usada por profissionais de saúde como indicador do nível nutricional do paciente, e a presença dela em níveis muito baixos é associada a uma mortalidade maior.

O número reduzido de pacientes envolvidos nesse estudo não permite conclusões amplas sobre o impacto de subnutrição na mortalidade por covid-19. De todo modo, por um lado, o número de pacientes nutridos e subnutridos que precisaram de um leito UTI era equivalente; de outro, os únicos três pacientes que morreram eram subnutridos. “Tendo em vista a alta prevalência, é um elemento essencial o suporte nutricional para pacientes em tratamento por covid-19“, afirmam os pesquisadores franceses

Impacto da alimentação em relação à covid-19

Para o médico Arnold R. Eiser, professor emérito da Universidade da Pensilvânia (EUA), a alimentação adequada talvez seja o fator mais importante na origem da tempestade de citocinas, nome dado a uma reação desmedida do sistema imunológico contra invasores como a covid-19 que acaba prejudicando o próprio corpo e em alguns casos levando à morte.

Em artigo publicado no Journal of Alternative and Complementary Medicine, ele discorre sobre características anti-inflamatórias das dietas japonesa e mediterrânea (ricas em ômega 3, verduras, legumes e cereais integrais, por exemplo) em comparação ao perfil pró-inflamatório da dieta ocidental, rica em carne vermelha, laticínios e açúcar, entre outros. Estes estão ligados a reações inflamatórias do corpo e também estão entre os fatores associados ao surgimento de doenças cardiovasculares e obesidade, por exemplo.

Eiser defende mais pesquisas sobre o papel anti-inflamatório e preventivo da alimentação na pandemia.

A profilaxia da supressão de citocinas por meio de mudanças na dieta pode ser benéfica na redução da letalidade em uma pandemia como a da covid-19. Mudanças dietéticas em direção a uma dieta anti-inflamatória também têm benefícios adicionais à saúde, incluindo redução da morbidade e mortalidade cardiovascular, redução da prevalência de demência e efeitos antidiabéticos, de modo que a saúde pública poderia se beneficiar mais amplamente do que apenas na pandemia de covid-19.”

Por outro lado, um grupo de dezenas de pesquisadores europeus aventa outras hipóteses, como a relação entre alimentação e os níveis de ACE2, enzima usada como porta de entrada pelo coronavírus para invadir as células humanas.

Ou seja, alimentos ricos em gordura saturada (como carne vermelha e laticínios) podem deixar algumas pessoas mais vulneráveis à doença. Na direção oposta, alimentos com potencial antioxidante podem ser benéficos.

Para a especialista em saúde pública nutricional Amanda Avery, professora da Universidade de Nottingham (Reino Unido), outro fator possível passa pela relação entre alimentação e os conjuntos de micro-organismos (microbiota ou flora) presentes no intestino e nos pulmões.

Alimentos fermentados e probióticos, afirma ela, têm potencial para ajudar o organismo a prevenir infecções como a covid-19. No intestino, por exemplo, vivem bactérias que se nutrem do que comemos e assim se proliferam e produzem mais nutrientes.

Todos os pesquisadores defendem estudos mais aprofundados sobre o tema.

Fonte: BBC

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