Os novos hábitos adotados pela sociedade para combater a propagação do novo coronavírus e as incertezas relacionadas ao trabalho, segurança e saúde estão refletindo no constante estresse e consequentemente no aumento das queixas dermatológicas, em especial relacionadas a acne, queda de cabelo e dermatites (inflamações na pele que geram coceira, vermelhidão e bolhas, no qual não são transmitidas por contato direto ou através de objetos de uso pessoal). Afinal, o excesso de cortisol – hormônio liberado pelo estresse – é capaz de afetar o sistema imunológico, agravando as enfermidades dermatológicas.
Logo, por esse motivo, algumas manifestações psicossomáticas podem transparecer para a pele, por ser o órgão, junto com o sistema digestivo, que mais apresenta quadros de somatização. A dermatologista Juliana Pires, especialista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), relata que a pele está diretamente associada aos distúrbios emocionais. “A pele e o sistema nervoso central se originam do mesmo tecido embrionário (lá no início da formação do embrião), então são afetados pelos mesmos neurotransmissores”, relata.
De acordo com a também tricologista, doenças como herpes, herpes zoster, psoríase, acne, queda de cabelos, dermatite atópica e urticárias são as mais catalisadas pelo estresse. A psoríase é uma doença genética e inflamatória, que acomete igualmente homens e mulheres. Logo, ela manifesta-se principalmente por lesões cutâneas, que podem surgir em qualquer local do corpo. “O tratamento depende da gravidade e extensão das lesões, podendo ser feito com cremes e pomadas, medicações orais e/ou injetáveis”, conta.
O estresse é para além de um estado emocional, um mecanismo fisiológico de sobrevivência. Porém, o problema ocorre quando esse estado se torna crônico, induzindo o organismo de maneira mais vulnerável a doenças como as de pele.
“O stress pode causar ou piorar acne em quem tem tendência. Da mesma forma que ocorre com a dermatite atópica. Quanto ao cabelo, existe um tipo de queda chamada Eflúvio Telógeno que pode ser causada por stress”, elucida a dermatologista. No entanto, é alertado que o estresse só pode ser confirmado, após demais causas orgânicas serem descartadas por um médico especialista. Além disso, doenças como psoríase e dermatite utópica são genéticas. Enquanto que, queda de cabelo e herpes não possuem essa predisposição.
Apesar da maioria dos casos de problemas na pele, — que tem angustiado diversos brasileiros nesse período atípico —, deterem de tratamento, é importante que medidas sejam tomadas para evitar o surgimento e/ou agravamento destas. Por exemplo “cuidados básicos como evitar banhos quentes, usar hidratantes e protetor solar ajudam a prevenir doenças de pele”, destaca Pires.
A alimentação é um fator altamente influenciável para os quadros cutâneos, pois se realizada de maneira balanceada, se torna interligada à prevenção de algumas dessas doenças. Alimentos ricos em açúcar, por exemplo, pioram casos de acnes.
Ao pensar em critérios principais para acometer na deflagração e agravamento de quadros cutâneos, a maioria das pessoas enfatizam a falta de sol. No entanto, a dermatologista Juliana alerta: “A falta de sol não tem influência na maioria das doenças de pele. O que se pode dizer é que o sol tem uma associação positiva em melhorar o humor e evitar tendências depressivas.”
Covid-19 x Lesões Cutâneas
“Casos graves de infecção por coronavírus cursaram com tipos específicos de lesões de pele, principalmente secundários a problemas vasculares. Outros casos mais leves, tiveram manifestações na pele, tipo urticária. Mas lesões na pele não fazem parte do quadro típico de Covid-19”, menciona a médica.
Estresse – Componentes Psicológicos
O termo “estresse” significa “pressão” “tensão” e/ou “insistência”. É a ligação do organismo com componentes psicológicos, mentais, físicos e hormonais. As doenças psicodermatológicas, por sua vez, é uma área da dermatologia que interage simultaneamente entre as doenças de pele e a saúde mental dos pacientes.
O dermatologista ao identificar sintomas de estresse e ansiedade, pode encaminhar o paciente a um psicólogo ou psiquiatra, visto que as doenças da pele sofrem forte indução psicológica. As pessoas estão convivendo com a pandemia de Covid-19 no Brasil há mais de seis meses e com isso, a saúde mental dos brasileiros ficou fortemente afetada. Portanto, este se torna um momento propício para as pessoas repensarem sobre a necessidade do apoio de um profissional da área da psicologia, independentemente de faixa etária.
Deste modo, a psicóloga Naiara Almeida, especializada em neuropsicologia, conta que “saber lidar com as restrições que nos foram impostas torna o processo mais leve e evita transtorno relacionado ao estresse (…) As pessoas com maior dificuldade de adaptação ao novo, provavelmente já apresentavam sinais de ansiedade que se tornaram mais visíveis nesse momento. A ajuda de um profissional é de extrema importância para seguir a diante de forma saudável, buscando prevenir a saúde mental do ser humano.”
Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) evidenciou que 51% dos brasileiros responderam ter alterações no controle de estresse neste momento de pandemia.
Segundo a psicóloga Naiara, “é importante organizar os horários de trabalho e outras atividades. Pegue uma agenda e anote tudo que precisa ou pretende fazer no dia seguinte tendo o cuidado de não idealizar aquilo que tem consciência que não será possível, mas planejamento pode e deve fazer parte desse momento. Praticar a gratidão. Evitar lamentar ou enumerar os problemas. Focar sua atenção no lado positivo da vida, sendo grato. Além disso, dormir bem; praticar atividades físicas; focar no agora; ocupar a mente; deixar o perfeccionismo de lado; auto incentivar-se” são algumas das estratégias que podem ser adotadas nesse período de reclusão para amenizar o estresse, afim de evitar possíveis quadros psíquicos agravados.
“Estar atento aos sinais sem preconceito ou banalização é fundamental”, relata a especialista, acrescentando os sintomas que devem ser observados: Batimento cardíaco fora do ritmo, respiração acelerada, sudorese, tremores, boca seca, dificuldades para dormir, queda de cabelo, tensão muscular, mudanças de apetite, dores de cabeça e cansaço demasiado.
“Caso sejam observados esses sintomas, é necessário identificar as causas para que sejam resolvidas, e a terapia é um dos caminhos para que esse enfrentamento seja realizado de forma consciente e responsável”, afirma Almeida.
Se os sintomas de estresse perdurarem pelo período de seis meses, “pode se tornar transtorno obsessivo compulsivo; síndrome do pânico; transtorno por estresse pós-traumático”, completa. Pois, sem a devida atenção e cuidado, o que poderia ser passageiro pode se tornar patológico.
“A mudança na rotina pode ser considerado o fator chave para desencadear sinais e sintomas relacionados à saúde mental. São adaptações muito rápidas que despertaram nas pessoas um alerta para algo que talvez já existiam e não tinham a devida atenção. (..) Desta forma, a saúde mental preservada é de extrema importância para enfrentamento da nova rotina. Aceitar suas limitações na busca de alternativas para evoluir é algo imprescindível para manter ou obter estratégias para o não adoecimento”, comunica.
Dia Mundial do Combate ao Estresse
Para conscientizar a população sobre os perigos do estresse prolongado na saúde, esse dia foi escolhido para ser lembrado em 23 de setembro. Em meio a esse cenário desafiador para a população global, essa data nunca foi tão relevante. “Ter uma data como forma de chamar atenção para um problema social é importante, pois são várias áreas debatendo um mesmo tema, levando informação à população”, conta a psicóloga. Nesse dia ocorre a divulgação de informações essenciais e prol da luta contra o estresse, gerando a “necessidade de olhar para si e para os outros com mais atenção e empatia.”
No entanto, a psicóloga alerta que “essa data não isenta as pessoas de estarem diariamente atentas ao que sua mente e seu corpo apresentam a respeito do estresse que é tão dito, mas pouco analisado”. Desta maneira, quando o estresse começa a fazer parte da rotina, a pele se torna, rapidamente, uma das áreas corporais mais afetadas.
Fonte – A Tarde *Sob supervisão da editora Keyla Pereira