Conhecidos como flanelinhas, eles estão nas movimentadas avenidas, em frente às casas de show e na praia durante o passeio do domingo. O trabalho desses guardadores de carros ocupa seis dias da semana, oferece pouca segurança e muito dinheiro.
Guardador de carros, Marcos Oliveira trabalha na região do Comércio há 34 anos. Há algum tempo sobreviver como flanelinha ficou ainda mais difícil com a instalação de zonas azuis por todos os cantos da cidade. “Antigamente cuidávamos de uma área enorme, hoje ficou mais difícil, a Prefeitura tomou conta de tudo”, explica.
Apesar disso, Oliveira carregava em uma das mãos cerca de 15 chaves de veículos, todos, segundo ele, de pessoas de confiança. “Deixam as chaves comigo por que confiam em mim. Eu guardo o veículo na ladeira, e quando a pessoa sai, vou e busco pra ela. Sou um manobrista popular e não tenho um valor fixo, eles me pagam o que acham justo. Eu sei que tem muita gente que é intimidada por guardadores, mas a maioria deles é drogado, eu posso afirmar que nenhum dos homens de bem que trabalham aqui fazem isso”, pontua.
Um dos clientes de Marcos chegou no exato momento da entrevista e cumprimentou o flanelinha como se fosse um velho amigo. “É isso que ele é, um velho amigo. Guardo meu carro com ele sempre que venho no Comércio, e confio plenamente nele. Foi indicação do meu primo, e eu já indiquei para outras pessoas, nossa relação já dura mais de cinco anos. Dou o que posso, às vezes R$ 10, às vezes R$ 2 e muitas vezes nada, e ele entende. É tudo na irmandade”, conta o cliente que preferiu não se identificar.
Já o guardador Jorge de Jesus confessa que o lucro compensa o trabalho árduo. “No dia eu ganho R$ 150, guardo 10 a 15 carros. Mas não é fácil, até de roubo já fui acusado e até provar que não fui eu foi complicado, até polícia chamaram. Eu continuo trabalhando aqui porque com esse dinheiro eu consigo fazer as coisas que eu gosto. Ir ao shopping comprar minhas roupas de marca, tomar minha cerveja no fim de semana”, diz Jesus.
Para o flanelinha Antonio Marcos, o lucro ultrapassa em dias de eventos. “Quando tem shows por aqui, nosso lucro triplica, cobramos por carro R$ 20, em uma noite dá pra tirar R$ 400, R$ 500. Guardo 20 a 25 carros. Mas tem gente que guarda uns 50 veículos, e tira uns mil por noite”, conta Marcos.
De acordo com Marcos, a instalação da zona azul dificulta, mas não impossibilita a vida dos guardadores. “Dificultou um pouco, mas ainda existem vias sem regulamentação que dá pra gente atuar. E nas outras, sempre tem um jeitinho brasileiro”, brinca o guardador.
Pensando em evitar ações como essa é que a Prefeitura de Salvador, junto com Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza ( Semps), providência ações de ordenamento da atividade dos guardadores de carro informais que atuam na cidade.
Fonte: Tribuna da Bahia