O fato é cada vez mais comum e vem transformando o cenário do emprego no Brasil. Os jovens estão entrando cada vez mais tarde no mercado de trabalho, o que significa que a força de trabalho brasileira está envelhecendo.
A dedicação exclusiva de muitos jovens aos estudos tem ajudado a derrubar a cada ano a taxa de desemprego no país. É a menor em mais de dez anos. Isso acontece, em parte, porque tem menos gente procurando trabalho. E, para os especialistas, esse fato não é uma má notícia.
De 2008 para cá a taxa vem caindo porque tem mais gente decidindo não trabalhar. E, quando a pessoa não está procurando uma colocação profissional, ela não conta como desempregada, não entra no cálculo e o índice cai. Quem mais está optando por não trabalhar são mulheres e jovens, entre 18 e 24 anos. Com salários mais altos, os pais conseguem manter os filhos na universidade sem que eles tenham que ingressar no mercado.
A boa notícia, segundo especialistas, é que o país terá profissionais mais capacitados no futuro. “O mercado de trabalho está sendo sacrificado agora para que lá na frente tenhamos trabalhadores qualificados. Há algumas décadas, a maioria dos jovens precisava abandonar os estudos para trabalhar. Hoje, as oportunidades estão mais distribuídas”, afirma Holanda Filho, especialista.
Mais preparo para a vida profissional
Dois fatores levam os jovens a adiar a entrada no mercado de trabalho: o ganho de renda das famílias, que possibilita a seus filhos estudarem por mais tempo, e a busca por cursos e treinamentos para encurtar o caminho até melhores salários e mais condições de crescimento.
Essa ânsia por qualificação levou Monique Carrijo, 25 anos, a focar no curso de pós-graduação de planejamento tributário, para só depois começar a buscar vagas. “Recebi algumas propostas durante o curso, mas avaliei que seria melhor mergulhar nos livros e atividades em grupo, para mais tarde explorar o mercado de trabalho. Como a minha família pode pagar o curso, ganhar dinheiro agora não é prioridade”, explica a estudante.
Qualificados, mas sem experiência
Se por um lado os jovens estão estudando mais e, portanto, devem chegar mais qualificados ao mercado de trabalho no futuro, por outro, esse atraso pode acarretar um problema diferente: a falta de maturidade para o mundo do trabalho. Para o professor de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Adilson Antônio Volpi, a entrada tardia no mercado retarda também o desenvolvimento das relações pessoais, da percepção do funcionamento do universo do trabalho e da noção de hierarquia e funcionamento das empresas.
Na prática, eles chegam qualificados, porém, sem habilidades comportamentais para lidar com algumas situações. Boa parte não se sujeita a fazer determinadas atividades, é pouco flexível, ignora a hierarquia. Segundo especialistas, isso tem a ver com o novo perfil da juventude. “Eles são muito exigentes. Mesmo sem nunca ter trabalhado, querem fazer estágios com boa colocação e, principalmente, boa remuneração”, afirma a agente de estágio do CIEE, Juliana Fabril Losso.
Redação Nossa Metrópole