A segunda causa de morte entre jovens de 15 e 29 anos é o suicídio, diz dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), ficando atrás apenas dos acidentes de trânsito. Segundo os dados do novo relatório da OMS, a cada 40 segundos uma pessoa se suicida. A doença que hoje é um dos temas mais discutidos em vários segmentos da sociedade é também uma batalha diária a ser vencida pra quem desenvolve a depressão, pois a luta e o tratamento são contínuos.
“Minha família não sabia reconhecer o quadro de depressão que eu tenho. No inicio, tentei suicídio duas vezes, pois tinha dias que me sentia vazia, triste, sozinha, angustiada e tentava desaparecer no mundo. Depois de muito tempo, meus pais entenderam o que estava acontecendo comigo e me levaram para o psiquiatra. Iniciei o tratamento e hoje estou melhor, porém tem dias que fico muito abalada, tenho muitos picos de humor e prefiro ficar sozinha”, relata, M. F. B, de 29 anos.
Quem sofre com a doença, tem que lidar com a difícil tarefa de saber quando ou qual dia será melhor que o outro, pois o sentimento de ansiedade também acompanha os sintomas. “Com 19 anos fui diagnosticada com depressão. Na época tentei suicídio e logo fui ao psiquiatra e ele o profissional viu que se tratava da doença. Durante o tratamento tomei remédio todos os dias, em um mês. Sei que a depressão nunca é curada por inteiro ela ainda mora dentro de mim. E é acompanhada da ansiedade. Têm dias que me sinto um caco, outro nem parece que tenho a doença”, conta a jovem que preferiu ser identificada pelas iniciais J. D. de 21 anos.
O preconceito contra a depressão e a pouca informação sobre os cuidados, identificação da doença e tratamento tornam ainda mais difícil a vidas das pessoas que lidam com o quando clínico dia após dia. Por outro lado, a depressão tem tratamento, que pode ser realizado em conjunto pelo psiquiatra e o psicólogo. “A depressão pode durar semanas ou mesmo e anos. E uma vez que o indivíduo passe por uma crise, corre maior risco de enfrentar episódio semelhante outra vez na vida. Como formas de tratamento existem diversos medicamentos antidepressivos, que ajudam a regular a química cerebral, e o médico escolherá segundo o diagnóstico do paciente. O acompanhamento psicológico, que buscará levantar as causas do problema e como ele poderá ser desmontado, é crucial inclusive porque os remédios podem demorar um tempo para fazer efeito. Em tempo o terapeuta poderá montar estratégia de procedimentos terapêuticos e orientações de atividades ao qual o indivíduo possa desenvolver em seu dia a dia”, avalia psicóloga Lília Cardoso, que atende na Clínica Psicorpus, em Camaçari.
Sobre a campanha do Setembro Amarelo, Lília ratifica a importância das ações de conscientização, que visa quebrar o tabu que existe envolvendo o suicídio. “Quebrar tabus não é fácil, mas é preciso esclarecer, conscientizar e estimular a prevenção para reverter situações críticas como as que nós estamos vivendo. O problema de saúde pública que estamos encarando agora é causado, principalmente, pelo desconhecimento das pessoas sobre as causas do suicídio e os tratamentos para evitar que ele aconteça. Muitas vezes, familiares e amigos não reconhecem os sinais de que alguém querido vai tirar a própria vida. Aliás, muitas vezes, a própria vítima não entende que precisa de ajuda e acaba se afundando cada vez mais em uma solidão desesperadora. Por isso, é preciso falar sobre suicídio e discutir a depressão abertamente, não só em setembro, mas em todos os meses”, conclui.
Setembro Amarelo em Camaçari
Para chamar atenção sobre esses dados alarmantes OMS, o setembro amarelo – campanha brasileira contra o suicídio – surge com o propósito de esclarecer a sociedade sobre as medidas de prevenção, cuidado e tratamento da doença. Para tanto, algumas atividades estão sendo realizadas na cidade.
O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) realizam, nesta quinta-feira (19), uma ação de prevenção ao suicídio. O evento acontece no auditório de desenvolvimento pedagógico de Secretária de Educação (Seduc).