Demorou, mas, finalmente, muito marmanjo vai poder realizar seu sonho de infância e ver, nos cinemas, os seus personagens favoritos: Turma da Mônica – Laços leva para as telonas, em versão live action (ou seja, com atores “de verdade”), a turminha criada por Mauricio de Sousa há 60 anos. Além da baixinha e dentuça, estão lá Cebolinha, Cascão, Magali, Floquinho, Titi, Sansão… e até o Louco, numa rápida, mas impagável participação de Rodrigo Santoro.
O filme, baseado na graphic novel (HQ de traços mais elaborados e publicada como livro) homônima lançada em 2013, é dirigido por Daniel Rezende, que já havia revelado seu talento como realizador no ótimo Bingo – O Rei das Manhãs (2017) e que, como montador, foi indicado ao Oscar por Cidade de Deus (2002). Além disso, nessa segunda função, já atuou com diretores como Terrence Malick em A Árvore da Vida (2011).
Na história, uma típica aventura para crianças e adolescentes, Mônica e seus três maiores amigos vão em busca de Floquinho, o cachorro de Cebolinha, que desapareceu e foi parar no meio de uma mata conhecida por seus perigos. Junto, o quarteto vai viver momentos especialíssimos, em que vai pôr à prova a amizade entre as crianças.
Para os mais velhos, é impossível não se lembrar, durante o filme, de aventuras clássicas dos anos 1980, como Os Goonies (1985), Conta Comigo (1986) e até alguns momentos de ET (1982). Afinal, todas elas tinham um toque de aventura e mistério, sem abrir mão de uma certa graça e ternura, como faz Daniel Rezende em Laços.
Cara de Pau
O diretor, amante do universo de Mauricio de Sousa, entrou no filme por iniciativa própria e até com uma certa “cara de pau”, como ele mesmo diz: “Li a HQ Laços (por interesse pessoal, antes mesmo de ser contratado como diretor) e logo achei que, se fosse para adaptar a Turma da Mônica para o cinema, tinha que ser essa história”.
Por coincidência, no final de 2015, Mauricio revelou que a turminha finalmente ganharia um filme em live action. E, para a felicidade de Daniel, a história que seria adaptada era justamente Laços. “Quando soube, botei na cabeça que ia bater na porta da produtora”, diz o diretor. Determinado, o paulista, 44 anos, se apresentou aos produtores e perguntou se já tinham diretor escolhido para o projeto. “Eles disseram que não tinham e eu respondi: agora, tem!”, afirmou, apresentando-se prontamente para o posto.
Daniel diz que Laços tem os ingredientes adequados para uma primeira aventura nos cinemas da turma do Limoeiro: “A história tem uma pegada realista e isso reforça a vontade que tínhamos de mostrar como seria a turma se ela existisse de verdade. Além disso, nesse enredo, o tema central são os laços de amizade, que são muito fortes para Mauricio”.
O diretor explica essa “pegada realista” que ele queria – e conseguiu, diga-se – dar ao filme: “Não queríamos algo cartunesco ou caricato. Por isso, o Cascão tem muito medo de água, mas não é o menino que nunca tomou banho. No filme, Cebolinha não tem só cinco fios de cabelo e nem Magali come dez melancias”.
Atemporalidade
Daniel faz questão de ressaltar a atemporalidade das historinhas da Turma da Mônica, que há seis décadas alcança as diversas gerações. “Para mim, Mauricio é o maior contador de histórias do país. Ele consegue ser lúdico, poético e, além disso, pega as características brasileiras e coloca nos personagens. A criança se enxerga neles. Ele conversa com o coração das crianças”, afirma Daniel.
Chama a atenção também a forma como o diretor conseguiu transpor para a tela o traço simples que marca a obra de Mauricio. As casas do bairro do Limoeiro, por exemplo, mantêm o tom “clean” das HQs. Até os carros, igualmente econômicos no design, remetem às historinhas que encantam gerações.
Embora fiel ao universo criado por Mauricio (que faz uma rápida aparição no filme), Daniel conseguiu bastante autonomia criativa no filme e essa é a maior virtude do longa, que trata principalmente de amadurecimento e da importância de ter amigos de verdade. Laços é infantil, mas jamais infantiloide.
Fonte – Correio da Bahia