No sétimo gol, o que havia era o silêncio. Um silêncio que não se ouvia desde 1950. Mas, antes disso, bastava ouvir. A cada gol sofrido, as expressões soltas no ar demonstravam pouco a pouco o tamanho da tragédia que se construía.
A maior goleada sofrida pela Seleção Brasileira em toda a história. Boquiaberta e sem piscar os olhos, a Fan Fest parecia não acreditar no que via. Por que, meu Deus?
Tudo como em todos os jogos, desde a estreia: música, festa, hino à capela. Até que Müller, com apenas 10 minutos de jogo, começou a despertar reações e comentários jamais ouvidos nesta Copa.
“Rapaz, a defesa parou. Com os zagueiros que a gente tem, não pode, né?”, reclamou o técnico de enfermagem Adriano Santos. “Mas acho que dá pra virar”. Doze minutos depois, Klose fez a confiança virar esperança: 2×0.
“Nada está perdido. A gente tem que torcer”, convocou uma senhora. “Vocês vão desistir. Eu sou brasileira, ó”, acompanhou uma senhora ao lado mostrando o distintivo da CBF. Em menos de um minuto, aos 23, elas próprias clamavam ajuda dos céus após o gol de Kroos. “Meu Deus do céu. E agora?”.
Dali a mais cinco minutos, depois de mais dois gols alemães, com 5×0 no placar, algumas pessoas já choravam. Crianças, inclusive. Uma delas juntou as mãos e começou a rezar imitando os adultos.
Mas, devido ao atropelo alemão, o baque veio de uma vez. Mais que sofrer, o sentimento era de perplexidade. “Rapaz, horrível. Uma tragédia. Muito triste e decepcionado. Não consigo nem chorar”, disse o estudante Marcios Cornelos, 36 anos, sem conseguir desgrudar os olhos do telão.
“Sem ânimo para nada, amigo. A seleção pentacampeã mundial sofrer uma goleada dessa. Quem poderia imaginar?”, pergunta o autônomo Roberto Oliveira, 30 anos. Muita gente viu até o último minuto o passeio do time de Klose e Khedira. Dezenas de pessoas até gritaram no gol de honra de Oscar.
Claro, não faltaram os que transformaram a decepção em críticas duras. “Essa porcaria de time a gente sabia o tempo inteiro que não ia longe. Mas passar por essa vergonha já é demais”, afirmou o atleta maratonista José Paulo Queiroz. “Se me botasse para correr em campo eu corria mais do que eles”, esnobou.
Silêncio e piadas
No intervalo, o grupo de alemães que estava em frente ao Farol da Barra já iniciava a festa. Antes do jogo, a brasileira Anjerléia de Jesus, 33 anos, beijava um deles, o alemão Thomaz Kuhlen, 53. “No final um dos dois vai chorar no ombro do outro. Espero que seja ele”, acreditava Anjerléia, que manteve a esperança até o intervalo. “Eu acho que no futebol tudo pode acontecer”. Não aconteceu.
Apesar de certo da vitória, Thomaz não deixava a elegância alemã de lado. “Realmente não esperava que fosse assim. Uma mistura de sorte e qualidade do time”, afirmou, disposto a ir ao Rio de Janeiro para ver a final no Maraca. “Me leva com você?”, pedia Anjerléia.
Acreditem. Não eram poucos os brasileiros que torciam para a Alemanha. Essa geração germânica tem a admiração de muitos baianos, inclusive. Os amigos Caio Rocha e Tássio Souza, ambos com 18 anos, acompanhavam os gritos daqueles que sequer conseguiam entender o que falavam.
Caio, com a camisa do Bahia, e Tássio, com a do Vitória, festejavam sem dó. “Não sinto nada por essa Seleção Brasileira e adoro o estilo alemão de jogar. Esse time só tem craque. O jogo está mais fácil que respirar”, disse Caio. “Sou fã de Schweinsteiger e de Neuer. Ainda mais vestindo essa camisa rubro-negra”, disse Tássio. “Vocês são brasileiros fuleiros”, escaldou Anjerléia.
Com o sexto gol, ainda se ouvia lamento. “Tragédia” era a palavra preferida. No sétimo, veio o silêncio, só quebrado pelas piadas. Terminada a partida, engolida a saliva quase seca, era hora de mostrar que o brasileiro sabe como ninguém rir das próprias derrotas. “A Volkswagen é alemã. Só eles fabricam quatro gols em seis minutos. Você quer o quê?”, afirmou o motorista Jair Guimarães, 55 anos. A primeira de muitas chacotas.