Com a pandemia do novo coronavírus e o alerta do distanciamento social, uma das alternativas para as pessoas que optaram por iniciar ou continuar a terapia com psicólogo foi através de vídeochamada. Segundo pesquisa realizada pela plataforma de contratação de serviços GetNinjas, a demanda por psicólogos online aumentou 32% entre março e setembro deste ano.
A psicóloga Bila Brandã, que já trabalhava com atendimentos online antes da pandemia, viu o número de terapias virtuais aumentar durante o período de isolamento. Conforme a profissional, 80% dos seus clientes optaram por continuar com o tratamento de forma remota.
Além da continuidade, Bila relata que também aumentou a procura de novos pacientes durante a pandemia para a realização da terapia online. “Teve um dia que 16 pessoas me procuraram para fazer o atendimento online e acho que é algo que, de certa forma, houve uma adesão satisfatória”, comenta Bila.
A terapia virtual foi a realidade possível para o professor universitário Edvan Souza, que viu a necessidade de começar o tratamento durante a pandemia. Para Edvan, inclusive, a consulta remota com psicólogo é uma modalidade que ele gostaria de manter, mesmo com o retorno dos atendimento presenciais.
“Eu, sinceramente, gosto muito das coisas conveniente e prática e acho que nunca fui na presencial por falta de tempo. Também acho que não me sentiria tão a vontade na presencial quanto me sinto na online. Estou na minha casa, em um ambiente que me sinto confortável”, relata o professor.
Apesar do conforto de estar em casa ser um fator positivo para Edvan, pode não ser uma realidade tão acolhedora para outras pessoas. Segundo Bila, muitas pessoas alegam não fazer a terapia online justamente por não se sentir a vontade dentro de casa, seja por morar em local com muitas pessoas, ou por não achar um lugar que considere seguro para a análise.
Este fator explica, em partes, os 20% dos pacientes da psicóloga que optaram por não continuarem com o tratamento online e esperam pelo presencial.
Danos emocionais na pandemia
A pandemia da Covid-19 trouxe diversos outros problemas além da ansiedade causada pelo isolamento social. Com o país ultrapassando as 155 mil mortes causadas pelo vírus, os danos emocionais causados pela pandemia podem ser devastadores e tornam necessários o tratamento psicológico.
Segundo a psicóloga Talita Nascimento, houve resistência com seus pacientes no começo da pandemia em relação ao atendimento online. A especialista explica que as preocupações, o medo, o afastamento de amigos, familiares e por muitas vezes os próprios filhos, com a incerteza, a insegurança e as perdas causaram e causam danos emocionais graves.
“Esse turbilhão de sentimentos e emoções gerados e acentuados na quarentena impulsionou o aumento na procura pelo atendimento online, as pessoas começaram a se perceber dentro de um processo, de um novo, que talvez, por um bom tempo não se imaginassem. E demandou um olhar mais cuidadoso quanto a saúde mental”, afirma Talita.
Atuando no Centro Universitário AGES, Talita comentou que houve um crescimento pela procura dos serviços de atendimentos realizados pelos estagiários de psicologia e pelos psicólogos da instituição. Com as atividades presenciais, o Centro possuía uma média de 320 atendimentos mensais. Após a pandemia o número saltou para 450.
Entre as utilizadoras do serviço está a funcionária Sheila Barreto. Com a Covid-19 e o isolamento em casa com a família, Sheila comentou que passou a ter crises de ansiedade frequentes que impediam até a realização do home office.
“Devido a isso não estava conseguindo trabalhar em casa, com muita ansiedade. Tive crise de ansiedade e então procurei um psicólogo. Como não podia ser presencial, procurei online. Fiz minha consulta com a psicóloga, fizemos a chamada de vídeo e gostei demais”, conta a funcionária.
Tendência pós pandemia
Tanto profissionais, quanto pacientes, acreditam que a terapia online vai ser uma tendência que vai continuar após a pandemia do novo coronavírus.
Conforme Talita, as redes sociais se tornaram uma ferramenta importante e de grande abrangência para profissionais que utilizam das ferramentas online para promover seu trabalho.
“ A psicologia e seus serviços avançaram no ambiente digital e está sendo positivo, pois a própria imagem da psicologia está mudando. As percepções das pessoas com relação aos serviços estão mais abertas e possibilitou um conhecimento maior do que seria a psicologia e do que realmente se trata a psicoterapia e seus benefícios e o próprio reconhecimento do sujeito de perceber que necessita de ajuda para algumas questões que não conseguem lidar”, salienta a psicóloga.
Já Bila acredita que o atendimento online vai se tornar tendência, mas também acredita que a consulta presencial vai ter mais procura após a pandemia: “por conta do ambiente e da presença do corpo”.
Esse turbilhão de sentimentos e emoções gerados e acentuados na quarentena impulsionou o aumento na procura pelo atendimento online.
Psicóloga Talita Nascimento
Edvan foi mais a funda e relatou que não pretende só continuar com a terapia remota, mas, se possível, manter a maioria das atividades do dia-a-dia de forma online.
“Tenho me organizado bem e comentado com as pessoas que, depois de tudo isso da pandemia, eu não penso em voltar com a vida que eu tinha. Acho que esta vida remota é bem melhor, de estar em casa e fazer meus horários”, relata o professor universitário.
Que aconselha: “No horário da terapia não agendo nada, fazendo sempre atividades antes ou depois”.
Fonte: A Tarde