Sancionado em 2016, em função do massacre de Realengo, o Dia Nacional do Combate ao Bullying e à Violência na Escola, comemorado neste 7 de abril, foi criado com objetivo de chamar a atenção para os problemas causados pelo bullying durante a infância e adolescência.
Caracterizado por ser um ato de violência intencional, física ou psicológica, com o intuito de intimidar ou agredir a vítima, a prática do bullying está cada vez mais presente no cotidiano escolar.
Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), 23% dos estudantes já afirmaram ter sido vítimas de bullying. Entre os principais motivos, estão a aparência do corpo (16,5%), aparência do rosto (11,6%) e cor ou raça (4,6%).
A orientadora pedagógica e coordenadora de Educação Sócio Emocional do Grupo Perfil de Educação, Fabiana Maynart, explica que a dificuldade em gerenciar as emoções e em se relacionar, a sensação de pertencimento e um ecossistema familiar doentio podem ser questões que levam alguém à prática do bullying.
“O papel da família, enquanto primeira instituição, é oferecer um ecossistema saudável, atendendo às necessidades básicas que toda criança tem direito, além de disponibilizar um lugar de fala, compreendendo a necessidade do filho. Todo filho que se sente acolhido pela família não precisa agredir fora para ser visto.”, destaca.
Ao ser questionada sobre aqueles que sofrem a agressão, Fabiana diz que o segundo papel da família é agir junto com a escola.
“Uma instituição de ensino consciente vê claramente a necessidade de um orientador pedagógico na escola. Em situações de bullying, cabe ao orientador identificar os personagens (agressor, vítima, espectador) e agir junto à família”, frisou.
A pesquisa aponta ainda que, em relação à saúde mental dos estudantes, cerca de 50,6% disseram se sentir muito preocupados com as coisas comuns do dia-a-dia. Além disso, 21,4% afirmaram sentir que a vida não valia a pena.
“A depender do nível de gravidade de um cenário de bullying, torna-se necessário que tanto a vítima como o agressor tenham um acompanhamento terapêutico ou psicológico e, em alguns casos, também o psiquiátrico. Isso porque, no âmbito da vítima, não sabemos como ela irá lidar no pós-bullying e, no âmbito do agressor, precisamos saber se foi apenas uma estratégia para chamar a atenção e se tornar o protagonista, se foi uma questão apenas comportamental ou se existe um transtorno/síndrome em desenvolvimento”, conclui Fabiana.
Para o estudante
O estudante Rafael Santos* lembra que já foi o agressor e, em outro momento, passou a ser vítima de bullying.. “O que me levou e leva muitos a praticar o bullying é uma questão de inclusão social, ou seja, algo que uma pessoa disse e acabou sendo repetida por outra para se ‘enturmar’ com as outras pessoas. Mas não necessariamente o agressor sente prazer em tal ato.”, afirma.
“Como vítima, o principal sentimento é de ser menosprezado, diminuído e desrespeitado. Muitas vezes, isso te desencoraja de estar no ambiente escolar, da participação social e do simples levantar da cama sorridente para ir para a escola. Sempre acaba se tornando algo chato e degradante, tendo em vista que é um local frequentado 5 dias na semana, se torna muito impactante para o aluno.”, completou.
Rafael destaca ainda a importância do aluno contar com uma rede de apoio nestes casos e que, muitas vezes, a prática é normalizada no ambiente escolar.
“Os alunos precisam se movimentar a partir desse assunto e não deixar que isso aconteça no cotidiano. É importante que cada um saiba as consequências da prática do bullying e que não fique calado em uma situação como essa. Com isso, uma rede de apoio é extremamente necessária, pois aqueles que passam por esse tipo de problema precisam de algo ou alguém para não guardar suas ‘sofrências’ para si.”, alerta.
Fonte: A Tarde