Cada vez mais cresce o número de adeptos às tranças afro, sejam homens ou mulheres. Existem aqueles que recorrem às tranças para passar pelo processo de transição capilar e assumir o cabelo natural, por gosto e vaidade, ou por moda. O penteado fez e faz sucesso entre artistas negros e hoje ‘bomba’ com as influenciadoras digitais e tem tomado conta da cabeça de muitos camaçarienses.
Porém, as tranças representam muito mais do que estética. Elas são carregadas de simbologia, história e resistência. Na África, cada tipo de trança poderia representar alguma coisa: estado civil, status, religião, etnia, classe social ou até mesmo para atrair uma pessoa do outro sexo.
No período da escravidão no Brasil, os negros escravos utilizavam as tranças para fazerem mapas, a exemplo das tranças nagô em que as divisões e reconhecimento de cada um era feito a partir do penteado, que continha sempre um mapa para auxiliar nas fugas e encontro dos quilombos mais próximos. As mulheres chegavam a esconder grãos (arroz, feijão, milho) para o plantio e garantia da suplementação alimentar de suas famílias.
O ato de trançar marca a história de muitas crianças e famílias negras. Esse era o momento em que as mães reuniam os filhos para trançar seus cabelos cuidadosamente e conversar. Ato transmitido de geração em geração, dando origem ao ofício de trancista.
“A trança carrega uma ancestralidade. Se eu for trançar o cabelo de uma mulher branca, eu vou explicar pra ela a origem, até para ela saber mesmo que não é só uma questão de estética”, fala a trancista Rozane Kelly Loiola Araújo, 22 anos, proprietária do Studio Afra Style, no Centro Comercial de Camaçari.
A jovem começou a trançar cabelos em 2015, por necessidade financeira, mas também como pela arte e “ato de resistência”. “Pra mim é liberdade, por trabalhar com algo que eu gosto e por não precisar me rotular, entrar nos padrões”, declara.
“Meu cabelo é um impulso de autoestima, porque o cabelo, não só o cabelo, a aparência ainda pesa muito”, comenta.
As tranças, em seus mais variados tipos, box brads, boxeadoras, nagô, crochet brad e entrelace, são instrumento de autoafirmação da estética e identidade negras. Elas podem ser feitas de fibra, cabelo natural ou lã.
Cuidados
– cabelos com química ou quebradiços devem ser bastante hidratados antes de colocar as tranças;
– lavagem com shampoo anticaspa ou antiresíduo
– Não usar creme de pentear nem hidratação
– Usar secador apenas no jato frio
– Usar touca de cetim (diminui o frizz e ajuda na durabilidade)