A empresa Enseada Indústria Naval comunicou que demitiu 470 integrantes do Consórcio Estaleiro Paraguaçu (CEP), na terça-feira, 9, mas informou que o número de dispensas pode chegar a mil até o final de dezembro. Os trabalhadores do estaleiro entraram em greve nesta quarta, 10 [ler texto abaixo].
As dispensas foram causadas pela “indisponibilidade de recursos financeiros do seu principal cliente, a Sete Brasil”, segundo nota emitida pela Enseada.
A Sete Brasil é uma das empresas envolvidas no escândalo do petrolão, esquema que pode ter desviado R$ 60 bilhões da Petrobras, segundo as investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal.
Os recursos desviados do petrolão, segundo as investigações, serviriam para alimentar campanhas do Partido dos Trabalhadores e aliados, como o PMDB e o PP.
A construção do Estaleiro Enseada do Paraguaçu ocorre em Maragojipe e a área da obra abrange 1,6 milhão de metros quadrados – chegou a empregar, em fevereiro, 7,2 mil pessoas, 70% delas baianas.

As empresas Odebrecht, OAS, UTC Engenharia e a japonesa Kawasaki anunciaram, em fevereiro, investimento de R$ 2,6 bilhões nas obras do estaleiro. As três primeiras também são citadas na Lava Jato.
A Sete Brasil tem contrato com a Petrobras para a construção de 29 sondas para exploração de petróleo no pré-sal, com investimentos totais de US$ 25 bilhões em todo o Brasil – na Bahia, devem ser construídas sete sondas, ao custo de US$ 7 bilhões.
A Enseada informou nesta quarta que a expectativa é que, em curto prazo, a situação seja normalizada e o fluxo de pagamentos retomado pelo seu principal cliente.
Na mesma nota, a Enseada explica que as demissões foram necessárias para realizar uma readequação do planejamento da obra, que hoje está 80% concluída.
Faturas
Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada e Montagem Industrial do Estado da Bahia (Sintepav-BA), Adalberto Galvão, a Sete Brasil deixou de pagar três faturas que somam US$ 210 milhões.
O fluxo de repasses da Sete Brasil à Enseada teria ficado irregular já nos últimos quatro meses, o que reforça a tese de que a interrupção tem ligação com a implicação de diretores da empresa na Operação Lava Jato.
O ex-diretor de operações da Sete Brasil, Pedro Barusco, fez um acordo de delação premiada no qual se comprometeu a devolver R$ 100 milhões aos cofres públicos.
Pedro Barusco foi também gerente-executivo da diretoria de serviços da Petrobras e é apontado pela Polícia Federal como um dos principais operadores do PT na petroleira estatal.
Trabalhadores em greve protestam em Salvador
Os trabalhadores que atuam na construção e operação do Estaleiro Paraguaçu entraram em greve nesta quarta, após a realização de uma assembleia.
Segundo a Enseada, ainda há 2.700 trabalhadores nas obras em Maragojipe; outros mil já trabalhariam nas atividades industriais do estaleiro. Já o sindicato da categoria afirma que são cinco mil operários no total. “Decidimos parar até que a Enseada dê aos trabalhadores uma posição”, disse Adalberto Galvão, deputado federal eleito pelo PSB.
Nesta quinta, 11, os trabalhadores do estaleiro realizam uma passeata em Salvador. Eles se concentrarão, a partir das 10h30, em frente ao Shopping Iguatemi e seguem caminhando até o prédio da sede regional da Petrobras, no Itaigara.
“Amanhã (quinta) faremos uma nova assembleia. E escolhemos ir até a sede da Petrobras porque toda esta crise e estas demissões de trabalhadores têm relação com estes escândalos”, disse.
Posição
Galvão disse que cobrará do governo estadual e das prefeituras do Recôncavo baiano uma tomada de posição. “Precisamos também que a Fieb (Federação das Indústrias do Estado da Bahia) se pronuncie, pois podemos ter uma perda de R$ 16 bilhões em investimentos”, disse Galvão.
“Se o Barusco está envolvido nestas irregularidades, não são os trabalhadores que devem pagar”, protestou Galvão.
Fonte: A Tarde