A cultura do coqueiro está sob ameaça. A produção de coco verde do Nordeste brasileiro e, em particular a baiana que é a maior do país, vive um novo período de crise com o fim das salvaguardas obtidas para derivados como o coco ralado junto à OMC – Organização Mundial do Comércio em 2012. A produção baiana alcança, atualmente, cerca de 16 milhões de unidades anuais. Os coqueiros produzem o fruto trimestralmente e durante todo o ano. Um acordo foi firmado em 2002, com um prazo de 10 anos, limitando a importação de derivados do produto.
Nos últimos três anos, toda a cadeia produtiva vem sendo atingida na medida em que multinacionais instaladas no Brasil e que utilizam o coco na composição de produtos, a exemplo da Nestlê e Pepsico, têm importado, desde então e em volume crescente, o coco ralado e uma “suposta água de coco” – com baixo valor nutricional – de países como a Indonésia, Vietnã, Tailândia, Malásia e Filipinas.
Em visita à Tribuna, ontem à tarde, onde foram recebidos pelo vice-presidente Marcelo Sacramento, o presidente da Asbacoco-Associação Baiana dos Produtores de Coco, Reinaldo Ribeiro do Nascimento, disse que “a reivindicação dos produtores nacionais é a imediata regulamentação da importação do produto e a adoção da fiscalização fitossanitária, como exigida junto à coconicultura nacional”. Nascimento esteve acompanhado do secretário da entidade, Alberto Villas Boas Seixas e do produtor Roberto Villas Boas Pinto.
Segundo eles, a coconicultura nordestina é mantida, em 70%, por pequenos produtores em áreas de 5 a 50 hectares. Boa parte desses beneficiária de programas sociais do Governo Federal como o Bolsa Família. “Até janeiro de 2014, com o coco cotado a R$ 1,00 eles conseguiam comercializar suas produções e dispor do dinheiro para adquirir alimentos na feira”. Com a queda do preço para R$ 0,35 – “como decorrência da importação e em detrimento da produção nacional – já não cobrem sequer o custo da colheita”, asseguram.
Os representantes da Asbacoco encaminharam, também ontem, ao presidente da FAEB-Federação da Agricultura do Estado da Bahia, João Martins da Silva Júnior, um “Manifesto dos Produtores de Coco da Bahia”. No documento destacam a “relevância econômica e social da coconicultura para dinamização da agricultura e agroindústria empresarial e familiar em vários territórios de identidade da Bahia”.
O manifesto ressalta as “condições climáticas propícias”; mostram o Brasil como “berço de variedades genéticas de referência para a produção de mudas puras ou híbridas”, e acentua o fato de o país “deter a tecnologia de produção em larga escala”. Demonstra, ainda, o quanto a coconicultura é uma “atividade perene e alinhada com os mais modernos conceitos de preservação ambiental, tais como agricultura de baixo carbono e propícia a um sistema produtivo intensivo em consórcios”.
Como contraponto a esses fatores e, dentre outros, diante do cenário de queda na produção e baixo índice de produtividade – o manifesto alerta para a “redução da capacidade de atração de investimentos agroindustriais relevantes”, o que tem contribuído de forma decisiva para o “abandono total da produção ou retorno à prática de uma cultura meramente extrativista”.
Produto reconstituído é vendido como natural
Porém, a “causa raiz” apontada no documento diz respeito ao “grave desequilíbrio de competição de mercado” causado pela importação de derivados do coco dos países asiáticos e apontados como “subprodutos de baixo valor nutricional e econômico, produzidos em condições degradantes de higiene e em regime de semi escravidão”. No manifesto, advertem, além do mais, para a comercialização de produtos derivados do “coco reconstituído” como sendo naturais, e demonstram que as importações da “suposta água de coco” cresceram mais de 50% em 12 meses – de março de 2014 a fevereiro 2015 – alcançado cerca de 1,8 milhão de litros. A quantidade é 56% superior à de igual período anterior (março de 2013 a fevereiro de 2014).
Os representantes da Asbacoco demonstraram, ainda, o quanto “a água de coco é importada como produto concentrado e, como tal, pode ser diluída na proporção de um litro para dez litros de água, gerando cerca de 18 milhões de litros de água de coco comercial”. Com isso, as importações do produto “já representam cerca de 20% da estimativa do consumo nacional de água de coco seco”.
O precioso líquido, contudo, e segundo a Asbacoco, é “reconstituído e com superdoses de conservantes químicos de procedência duvidosa, sendo vendido como se fosse água de coco natural (proveniente do coco anão verde produzido no Brasil)”. Eles entendem que tal violação “pode ser enquadrada como fraude” e que “a permissividade da comercialização de produtos reconstituídos como sendo naturais é o principal fator alimentador da importação crescente dos derivados do coco oriundos dos países mencionados.
A associação baiana acaba de formar uma Frente Interestadual com os demais estados nordestinos produtores para, através das federações da agricultura, pressionar o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento a solucionar a questão. Conforme Reinaldo Nascimento, “enquanto todos os países do mundo protegem e subsidiam a agricultura como prioridade, o Brasil tem feito exatamente o contrário”.
Ele citou a Bahia, Sergipe e Alagoas como os maiores produtores de coco seco e a Bahia e o Ceará como os maiores no coco verde. O município de Conde, na Linha Verde, é o maior produtor nacional.
Fonte: Tribuna da Bahia