Quando uma pessoa desaparece em Salvador, a responsável pelas buscas é a Delegacia de Proteção à Pessoa (DPP), localizada na Pituba. Normalmente, as informações sobre pistas chegavam pelo telefone 3116-0357. Ou, mais recentemente, pela página da delegacia no Facebook.
E, agora, a possibilidade de contribuir ganhou ainda mais força. Desde a última segunda-feira, os 13 agentes comandados pela delegada titular da DPP, Heloísa Simões, tem os seus computadores linkados ao WhatsApp (telefone 71-8643-4007). Assim, cada vez que uma pessoa desaparecida ou perdida é avistada, qualquer cidadão pode enviar informações e até fotografias ao número de telefone.
“Já recebemos 30 mensagens em dois dias de serviço. Na verdade, as mídias sociais têm sido bastante utilizadas pelos órgãos de segurança pública, para desmontar organizações criminosas e encontrar desaparecidos”, disse a delegada ontem à tarde.
A iniciativa partiu da própria equipe, depois do sucesso do da página da delegacia no Facebook e do aplicativo SIPP (Sistema de Informação para Proteção à Pessoa). No Facebook, a DPP tem mais de 4 mil seguidores.
“O Facebook tem um resultado excelente, porque 70% das nossas ocorrências envolvem adolescentes em conflitos familiares. Quando a gente posta uma foto na página da delegacia, posta também no perfil do procurado. Ele vê, sabe que a polícia está procurando e acaba retornando”, diz.
Eficiência
Para a delegada, há dois tipos de desaparecidos: os que querem e os que não querem ser encontrados: “Quando a pessoa quer, é fácil tirar uma foto e enviar para o WhatsApp. As que não querem, a gente sugere que a pessoa converse, tente ganhar tempo e ligue para a polícia”.
O retrospecto do trabalho da delegacia baiana é positivo. Somente no ano passado, foram registrados 326 casos de desaparecidos na DPP. Destas, 318 foram encontradas. Este ano, de janeiro a março, foram 75 casos registrados. Até agora, 71 foram localizados.
Segundo ela, o número de desaparecidos vem diminuindo. No ano passado, de janeiro a março, 104 pessoas haviam entrado nos registros da DPP por desaparecimento. Este ano, o número caiu para 75.
Rede Social
A iniciativa da polícia é elogiada até por quem, após seis anos de busca, faz duras críticas ao trabalho da polícia. É o caso de Sandra Moreno, 51 anos. A filha dela, Ana Paula, desapareceu em 2009, aos 23 anos, quando saía de casa para trabalhar, em São Paulo. Sandra tem um site e uma página no Facebook, onde são publicadas fotos de pessoas desaparecidas em todo o Brasil.
“Eu fiquei muito feliz e mais ainda porque vi que a iniciativa vinha de uma mulher e eu acredito na força da mulher. Isso é muito bom, porque toda vez que alguém se mobiliza em prol da causa, para nós é gratificante”, diz Sandra, presidente do Instituto Ana Paula Moreno (Impar).
“A rede social é uma grande aliada, porque de três fotos que a gente publica no dia, duas a gente tem resposta”, completa. Outro trabalho que tem dado certo é o site ‘KDVC?’, lançado em 2013 pelo cientista da computação Octávio Fernandes.
Lá, é possível cadastrar desaparecidos com fotos, contato da família. Se alguém tiver informações, pode sinalizar no site e a mensagem é enviada ao familiar. “Confirmadas através de contatos, 12 pessoas já foram localizadas. Parece pouco, mas nesse tipo de nicho é um resultado bem bacana”, explica Octávio.
Para a auxiliar de coordenação Anaiçara Bispo, 28, todo tipo de ferramenta que possa ajudar a encontrar alguém é válida. O irmão dela, Robson Bispo Serafim, 34, desapareceu em outubro do ano passado com quadro de depressão. Ele prometeu almoçar com a família, mas saiu de casa e não voltou. Fotos dele estão no perfil dos familiares e uma ocorrência está registrada na DPP, mas não há notícias.
Polícia quer que psicólogos deem apoio a famílias
Entre os casos de jovens desaparecidos, há muitas situações em que a pessoa procurada é homossexual e sofre pela falta de apoio da família.
“É uma realidade que a gente não tem como fugir. A não aceitação faz com que aquele adolescente fuja de casa. Às vezes, a gente posta a foto na página do Facebook e a pessoa mesmo liga pra gente e diz: ‘Olha, eu estou aqui, mas meus pais não aceitam e eu só vou voltar se tiver diálogo, se tiver uma conversa’”, explica a titular da Delegacia de Proteção à Pessoa da Bahia (DPP), Heloísa Simões.
Segundo a delegada, faz parte dos planos fazer convênios para acompanhamentos. Hoje, uma policial formada em Serviço Social já faz o trabalho. Mas a ideia é criar parcerias com faculdades de Psicologia e Serviço Social: “Quando a pessoa chega na polícia, às vezes tem um pouco de resistência e não fala tudo. Dentro da casa da pessoa, ela se abre mais, diz mais coisas”, afirma a delegada.
Fonte: Correio 24 Horas