O mês de novembro é dedicado ao debate sobre história, cultura, direitos e luta do povo negro e hoje, dia 20 de novembro, simboliza a maior data dentro dessa comemoração: é o Dia Nacional da Consciência Negra.
A data foi instituída oficialmente em 10 de novembro de 2011 e faz referência à morte de Zumbi dos Palmares, um dos maiores líderes da história e conhecido por estar à frente do Quilombo dos Palmares. Nesse dia, lá em 1695, Zumbi deixou marcado na história do Brasil aquele seria um marco simbólico da luta coletiva da população negra em território nacional.
Nesse símbolo de resistência, que permanece até os dias atuais, pessoas negras que fazem parte do dia a dia de Camaçari relatam o orgulho de ser negro.
Elly Nascimento, cantora
“Eu tenho muito orgulho de ser mulher e negra, porque isso significa que tudo pra mim é dez vezes mais difícil. Em contrapartida eu preciso ser dez vezes mais forte e sou. A luta por dias melhores é diária e constante, mas resistir é a lei da minha raça, Negra! Sigo resistindo”.
Gilmar Joaquim de Jesus, o Gil da Bamuca
“Eu sou um negro de raiz, filho daqui da cidade de Camaçari e ao longo desse tempo eu fui conquistando espaço, fui conquistando o carinho do pessoal e sempre tive orgulho de minha cor. Eu acho que ser negro é uma dádiva de Deus. Fui sempre respeitado, existe a questão do preconceito, mas isso não me atinge. Camaçari me abriu muitas portas para eu mostrar meu trabalho, me deu respeito. Eu tenho orgulho de ser negro, sou um cara empoderado e tenho essa garra. Graças a Deus me identifico muito com os meus irmãos africanos, gosto das coisas que eles cultivam, das danças, sincretismo religioso…tudo são coisas que me fascinam e eu só tenho que agradecer”.
Elisângela Sena, produtora cultural
“Eu tenho orgulho de ser uma mulher preta e isso é saber que precisamos resistir e sobreviver todos os dias. A minha ancestralidade negra me emociona, me empodera e me dá consciência de quem sou e do quão é importante o meu papel na sociedade na busca por um país mais justo. Tenho orgulho da cor da minha pele, da minha história, das conquistas do meu povo, tenho principalmente orgulho da minha ancestralidade”.
“Eu me orgulho por fazer a consciência negra 365 dias por ano, orgulho por ser mestre e representante de uma arte que é a maior divulgadora do Brasil no mundo. Orgulho não de ser descendente de escravos. Orgulho de ser descendente de uma raça humana que foi escravizada e que apesar de toda desigualdade, preconceito e racismo, a gente segue lutando, sonhando, levando alegria para tantos povos no mundo através da nossa arte, construindo esse país e de cabeça erguida”.
“Orgulho negro, orgulho meu. Não venha com esse papo de que somos todos iguais! Pele branca tem privilégios sim. Sou negra e sou julgada como suspeita pelo sistema, sou seguida nos supermercados e nos grandes shoppings. Me diga, quando um negro se aproxima de você na rua à noite, você fica com medo e esconde sua bolsa? Ou você olha pra ele e diz: ah, somos todos iguais?. O alto índice de desemprego atinge em sua maioria pessoas negras porque negro não tem qualificação, por não ser gente bonita, ser preto é feio. Hipocrisia é dizer que não precisa ter um mês pra se ressaltar o negro nem para conscientizar as pessoas da falta de respeito e desigualdade. Novembro é considerar como uma ferramenta de luta contra o racismo, assim como o Outubro Rosa combate uma doença. O racimo é uma doença que mata também, e precisa ser combatida sempre”.
Lyla Matos, cabeleireira e empreendedora
“Eu me orgulho de ser negra e vejo que através desse orgulho eu compreendo a necessidade de lutar, sinto necessidade de luta. E através dessa luta eu vejo o quanto o meu povo é forte, não é só o fato de ser negro, mas somos um povo que mesmo historicamente sendo oprimido, somos um povo forte, corajoso e resiliente. Então, eu me emociono até em falar nisso, tenho muito orgulho de ser negra e tenho orgulho da nossa cultura. Nossa cultura é linda, é maravilhosa”.
“Todas vezes que alguém falar bobagem sobre a tal da “consciência humana” ou disser que “somos todos iguais”, recorde-os de que no Brasil foram 350 anos de escravidão, tortura, assassinatos, estupros e todo tipo de violação ao corpo e à dignidade do negro. Mazelas que até hoje reverberam em nosso povo estigmatizado e duramente discriminado por essa sociedade doentia, portanto, SALVE SIM O 20/11!”.
“Como não ter orgulho de ser negro? Nascemos em um país que é negro, estamos dentro de um estado que é o maior estado fora de África com a maior quantidade de negros. Nós somos o estado mais mestiço fora de África. Nós, negros, estávamos na África até antes de trazerem a gente para aqui para desenvolver esse país. A humanidade começou em África. A minha pele demonstra e mostra o quanto nós somos fortes e resistimos a todas as atrocidades que tentaram fazer em nome da nossa cor de pele. Como não ter orgulho de ser negro? Sabemos da nossa competência, sabemos do quanto nós somos importantes dentro desse estado e dentro do país. Então, ser negro é o meu grande orgulho”.
Angela Cheirosa, bailarina e coreógrafa
“Para nós mulheres negras, o processo de construção do orgulho de ser negra vem sendo construído gradativamente e diariamente. Essa construção do orgulho vai desde o respeito à nossa ancestralidade até a autoaceitação, a aceitação da nossa beleza, da nossa estética e aí, a partir de conceitos como o empoderamento feminino, diversidade, representatividade a gente vem ocupar lugar no mercado de trabalho, na sociedade, nos meios de comunicação e nos empoderando. A partir desse empoderamento, o orgulho surge de diversas formas. A minha forma de expor o meu orgulho de ser negra é dançando, demonstrando que a mulher negra pode ocupar todos os lugares, inclusive na dança do ventre, que é uma arte que exclui pela cor, pelo peso, pelo cabelo, mas a gente tem provado todos os dias aqui em Camaçari que dança do ventre é possível para todo mundo”.
Rose Braga, ativista negra, empreendedora e produtora cultural
“Tenho muito orgulho de ser uma mulher negra, que mesmo estando liberta sem as algemas da escravidão, continuamos vivendo sendo oprimidas e descriminadas. Mas tem uma força maior que me motiva a lutar e não desistir de ser quem eu sou: uma mulher forte, determinada, que não desiste dos sonhos e que luta por uma sociedade mais justa, igualitária. Sonho com igualdade de gênero para ter mais mulheres sendo protagonistas das conquistas do nosso povo”.